Muro de contenção na praia de Barrinha - Icapuí/CE Foto: Melquíades Júnior |
Editorial publicado no Diário do Nordeste - Opinião em 26.3.2012
Os
episódios de avanço do mar no litoral cearense são constantes, enquanto
escasseiam os estudos técnicos sobre seu comprometimento e providências
capazes de evitar a destruição das faixas de praia exatamente onde elas
são balneáveis.
No
Litoral Oeste, esse processo é atribuído à interferência humana, ao
promover alterações nas correntes marítimas com a construção do Porto do
Mucuripe, ao longo das décadas 1930 a 1960. A modificação na paisagem
geográfica, imposta pelas obras do cais, resultou na destruição parcial
da Praia de Iracema e sua continuidade até a Praia do Icaraí, em
Caucaia.
A
solução técnica aplicada, a partir da confluência das avenidas Rui
Barbosa e Raimundo Girão, com a construção de sucessivos espigões,
somente serviu para empurrar os problemas, de praia em praia,
possibilitando a deformação da orla marítima e inviabilizando o banho de
praia. O mar foi contido, mas seu avanço transferido para outras áreas.
A
construção do Porto do Mucuripe é obra de importância inquestionável,
especialmente quando abre um vasto leque de oferta de serviços de
cabotagem, em razão do aprofundamento da bacia de evolução para
comportar embarcações com até 15 metros de calado. O Mucuripe
complementa a estrutura do porto do Pecém.
Mas
os estragos não ocorrem apenas no Litoral Oeste. Mesmo sem obras de
porte interferindo no movimento das marés, eles estão acontecendo também
no Litoral Leste, afetando as praias de Barreiras, Barrinha e Redonda,
no município de Icapuí; a de Parajuru, em Beberibe; e as praias de Cascavel. Ou seja: a destruição da orla se expande.
O
Ceará conta com um litoral de 538 quilômetros, potencialmente rico, à
espera de empreendedores. Os extremos se confrontam nesse ponto. A
divisa entre o Ceará e o Rio Grande do Norte é dotada de praias
belíssimas, explorada apenas por grupos de visitantes que se aventuram
no prazer de sua descoberta.
No
confins do Ceará com o Piauí, a cidade de Camocim dispõe de praias
igualmente belas, situadas no espaço citadino, à espera de quem se
interessa por praias desertas, calmas, sem poluição, mas também sem
infraestrutura de apoio ao turista. Um hotel de boa categoria, instalado
na faixa de praia da cidade, não prosperou por falta de clientela.
Nesse
meio de indiferença ao socorro da natureza, os estudos acadêmicos
começam a surgir, oferecendo soluções para o equacionamento dos
problemas litorâneos. O Instituto de Ciências do Mar, da UFC, concluiu
análise comprovando a existência de aspectos geológicos, de dinâmica dos
ventos e de estrutura da bacia sedimentar da região de Icapuí
interferindo no regime das marés.
A
pesquisa aponta, ainda, haver movimentação de placas tectônicas no
processo de distanciamento entre os continentes americano e africano.
Esse fato provoca desde os tremores ocorridos com regularidade em Sobral
a mudanças na estrutura da bacia sedimentar de Icapuí. O movimento
tectônico causaria um provável arqueamento de blocos de rochas
pressionados por falhas geológicas nas bordas da bacia potiguar.
Para
o Ministério do Meio Ambiente, o aquecimento global e a intervenção
humana indiscriminada farão o nível do mar aumentar cada vez mais. Por
isso, 42 milhões de brasileiros serão deslocados de seu habitat natural
até o fim do século. Isso já explica, em parte, o desaparecimento
parcial das praias. Com maior razão, o fenômeno merece ser tecnicamente
acompanhado de perto.
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